domingo, 28 de dezembro de 2008

MOISES


Moisés é um dos personagens mais conhecidos de todo o Antigo Testamento. Zípora, sua esposa, é um dos menos conhecidos. Sendo estrangeira e de uma nação menosprezada, ela obviamente permaneceu tão longe das luzes quanto possível. Porém, como logo veremos, ela foi uma esposa fiel que permaneceu com Moisés durante as provações do Êxodo. Ao mesmo tempo, o casamento trouxe para a família de Moisés seu sogro Jetro, e este se tornou uma grande bênção, não só para Moisés mas para os filhos de Israel como um todo. Embora possamos aprender muitas lições de sua história, talvez esta seja a mais importante: relações familiares certas podem ser maravilhosas; as erradas, infelizmente, podem trazer resultados terríveis.

Prévia da semana: Quando Zípora se casou com Moisés, não tinha idéia do que viria. Mas ela e sua família serviram de uma grande ajuda a Moisés e o apoiaram em sua missão divina. Nesta semana, veremos que bênçãos uma boa esposa e bons sogros podem trazer.

A exemplo de Jacó, séculos antes, depois de caminhar algumas centenas de quilômetros, Moisés chegou a um povoado no deserto que havia ao redor de um poço. Os dois fugiam para salvar a vida — Jacó, de seu irmão Esaú; e Moisés, de Faraó. Mas que diferença pelas razões de sua fuga!

1. Por que Moisés fugiu? Êx 2:11-15.O que este fato nos diz sobre a lealdade de Moisés ao seu povo, apesar de usufruir grandes privilégios no palácio de outra nação?

2. Pelo que sabemos sobre o caráter de Moisés, por que sua atitude junto ao poço não é surpreendente? Êx 2:15-17 (veja também At 7:23-29.)

Sentado junto ao poço, Moisés observou que os rudes pastores não apenas afugentaram as sete filhas de Jetro, mas esperaram até elas tirarem água para seu rebanho e, então, as afugentaram de forma a abeberarem suas próprias ovelhas com aquela água (Êx 2:17). Aparentemente, Moisés não podia se conter diante da injustiça. Foi isso que o pôs em dificuldade no Egito.

De acordo com Êxodo 2:19, as filhas descreveram Moisés ao pai como um "egípcio", provavelmente por causa de seu vestuário, o que mostra a influência da cultura egípcia sobre Moisés. Ele não apenas estava sozinho, mas era claramente um estrangeiro. Entretanto, o texto não diz como, ele foi capaz de usar poder e autoridade suficientes para afastar os pastores.

Reuel, outro nome de Jetro (veja Êx 2:18; 3:1), repreendeu as moças por não convidar seu herói para a ceia. Zípora, provavelmente a primogênita, foi prometida a Moisés em casamento e, por sua vez, Moisés tomou a seu cargo o rebanho do sogro, assim como Jacó havia feito a Labão séculos antes (Êx 3:1).

Respostas sugestivas: Pergunta 1: O assassinato de um egípcio se tornou conhecido. Pergunta 2: Manifestava interesse em ajudar os outros.
Moisés e seu sogro

O sogro de Moisés é mencionado por pelo menos dois nomes – Reuel (Êx 2:18) e Jetro (Êx 3:1). Porém, Reuel significa "amigo de Deus" e pode ser um título que ele mantinha como sacerdote. Existem vários exemplos de personagens do Antigo Testamento que tinham mais de um nome (Esaú/Edom, Jacó/Israel).

A resposta imediata de Jetro ao relatório do cavalheirismo de Moisés foi repreender as filhas por deixarem para trás esse homem. Ordenou-lhes que o convidassem para uma refeição. De sua parte, Moisés ficou feliz por permanecer em casa desse homem; realmente, ele passou 40 anos pacíficos em seu lar.

3. Que razões deu Moisés para voltar para o Egito? Que razões ele não deu? Ele foi desonesto? Êx 4:18

Jetro não aparece na Bíblia novamente até Êxodo 18:1-12. Imagine a surpresa que ele deve ter tido! Seu genro partira para o que deveria ter sido uma visita familiar e voltava líder de vários milhões de pessoas! Naturalmente, ele ficou impressionado pelo que acontecera e ofereceu louvor e sacrifícios ao Senhor (vs. 10-12). Quanto Jetro conhecia sobre Deus não é sabido; embora tenha ficado impressionado, aparentemente, ele ainda cria na existência de outros deuses (v. 11).

4. Que evidências temos do grande respeito de Moisés por seu sogro, apesar de algumas fraquezas teológicas que o homem tivesse? Que evidência da grande sabedoria de Jetro vemos neste capítulo? Êx 18

O interessante é que o sogro de Moisés, que nem era do mesmo povo dele, e que ainda (aparentemente) era politeísta, foi quem deu a Moisés um bom conselho sobre a administração desse povo.Obviamente, Moisés creu que devia ter sido a vontade de Deus, de outro modo, ele não teria concordado.

Respostas sugestivas: Pergunta 3: Queria voltar para visitar a família. Não disse que iria libertar o povo de Israel. Esconder intencionalmente uma verdade é desonestidade. Pergunta 4: Moisés acolheu seu sogro e atendeu aos seus conselhos. Jetro deu conselhos sobre a delegação de responsabilidades.

Como teria sido fácil para Moisés rejeitar sumariamente o conselho desse "pagão"! Mas ele atendeu. Qual é a lição? Quão disposto você está a atender a um bom conselho, mesmo quando vem de fontes inesperadas?

Zípora e a religião do seu marido

5. O que aconteceu no caminho para o Egito? Por que Zípora agiu dessa forma? Êx 4:19-26

Vários povos do antigo Oriente Médio praticavam a circuncisão. Então, não foi um costume novo que Deus inventou para Seu povo. Mas Ele lhe deu um novo significado. Para muitos, era um sinal de casamento, executado quando o homem se casava, mas Deus o usou como sinal de Seu vínculo especial com o povo escolhido. Deus instruiu Abraão a circuncidar todo homem em sua casa no oitavo dia (Gn 17:9-14). Abraão tinha 99 anos de idade quando foi circuncidado.

O contexto lança luz sobre a gravidade da negligência de Moisés em circuncidar seu filho. Deus ordenou que Moisés exigisse do faraó a libertação de Israel, "Meu primogênito" (Êx 4:22).Como conseqüência de não libertar Seu "primogênito" Israel, Deus ameaçou matar o primogênito do faraó (v. 23). No verso seguinte, (v. 24) somos informados de que Deus quis matar Moisés por não haver circuncidado seu filho, provavelmente seu primogênito (Êx 2:22).

Respondendo às perguntas seguintes, tente ver o assunto sob o ponto de vista de Deus:

(1) Moisés sabia que os filhos masculinos dos israelitas deviam ser circuncidados? (2) Moisés conhecia o significado da circuncisão? (3) Como os israelitas poderiam responder se soubessem que Moisés não havia circuncidado seu filho? (4) Como Deus Se sentiria por Seu mensageiro viver em desobediência aberta ao Seu mandamento?

Moisés estava no limite de uma missão que representava vida ou morte para os egípcios, bem como para os israelitas. Sua vida poderia ser tirada pelos egípcios ou pelos israelitas, caso o salvamento fosse frustrado. A segurança pessoal de Moisés estava completamente nas mãos de Deus. Nenhum detalhe da instrução de Deus para a vida pessoal deve ser omitido.

Não nos é dito por que Zípora chamou Moisés de "esposo sanguinário" (Êx 4:25). É mais provável que a circuncisão fosse para Zípora uma "cerimônia sanguinária". Provavelmente, o costume era repulsivo para ela. Pode ser que ela tivesse se oposto à circuncisão de seu filho e, depois, sentiu a responsabilidade pelo que estava acontecendo. Não obstante, sentindo o desgosto de Deus, ela tomou sobre si mesma o que Moisés, homem de Deus, devia ter feito.

Resposta sugestiva: Pergunta 5: Deus quis castigar Moisés por não haver circuncidado seu filho. Zípora não estava familiarizada com esse costume.
Zípora com Miriã e Arão

Leia Números 12:1-3. Existe a sugestão de que essa esposa cuxita não fosse Zípora, porque Zípora era midianita; e que a mulher cuxita fosse uma nova esposa que Moisés poderia ter tomado depois da possível morte de Zípora. No entanto, não existe evidência bíblica de que tivesse acontecido um segundo casamento de Moisés, que teria sido um grande evento. Além disso, Zípora, a midianita, poderia ser chamada de cuxita (Hc 3:7). Cusã é usada como termo paralelo para Midiã e talvez seja até um antigo termo poético para Midiã.

6. O que podemos aprender sobre o caráter, os dons e os privilégios de Miriã? Êx 2:1-9; 15:20 e 21; Mq 6:4. Veja também Patriarcas e Profetas, pág. 382.

7. Que características horríveis vemos reveladas tanto em Miriã como em Arão? Nm 12:1

O preconceito humano é um dos condenáveis resultados duradouros depois da queda. Mesmo pessoas talentosas, honradas e consagradas como Miriã e Arão não estavam livres. O que tornava essa questão ainda pior era que Zípora provou ser leal e fiel a Israel através de todas as provas da nação israelita. De acordo com Êxodo 4:20, "ela e seus filhos foram com Moisés para o Egito. E foi ela que salvou a vida de Moisés (v. 26). Quem sabe o que teria acontecido a Israel se Moisés tivesse morrido. Ainda pior foi que esse tipo de preconceito se manifestasse nos líderes de um povo que por tanto tempo fora objeto do desprezo de outra nação.

8. Qual foi o real motivo do ataque contra a esposa de Moisés? Nm 12:2

Aparentemente, Miriã e Arão sentiram sua autoridade declinar. De alguma forma, eles atribuíram essa tendência à mulher de Moisés. Fora o pai dela que havia influenciado Moisés a nomear dezenas de líderes que se reportassem a Moisés quando tivessem casos difíceis. O ataque contra Zípora pode não ter sido um pretexto inocente para desacreditar Moisés. Arão e Miriã podem nunca ter aceito corretamente a esposa de seu irmão e, depois de ver sua família no deserto, eles podem tê-la menosprezado ainda mais.

Por que o preconceito racial ou étnico é especialmente repugnante nos que professam seguir a Cristo? Que passos concretos você pode dar para purificar seu próprio coração de algum rastro dessa doença pecaminosa?

Respostas sugestivas: Pergunta 6: Tinha iniciativa e liderança. Pergunta 7: Preconceito e rebelião. Pergunta 8: Inveja da posição de Moisés.

O cunhado de Moisés

É conhecido o ditado que diz que quando você se casa, não se casa apenas com o cônjuge; você também se casa com a família dele ou dela. Moisés não era exceção.

9. Que oferecimento fez Moisés a seu cunhado? Nm 10:29 e 30

De acordo com Moisés, se Hobabe concordasse em ir, ele e sua família participariam das bênçãos de Deus, prometidas a Israel.

Ao mesmo tempo, a presença de Hobabe forneceria família para Zípora, esposa de Moisés.

10. Que simbolismo existe na idéia de que os gentios participem das bênçãos de Israel? Is 56:1-7; Rm 11:17-19

Nas histórias de Moisés, ficava claro que Deus tinha a mão sobre os israelitas. O futuro reservava grandes promessas. Mas seguir a marcha de uma multidão era difícil. Embora Moisés, seu líder, fosse cunhado de Hobabe, não era uma decisão fácil para este deixar seu povo e lançar a sorte com outro. Talvez, tenha sido por isso que Hobabe, pelo menos naquele momento, disse Não.

11. Que outros motivos pode ter tido Moisés para o convite a Hobabe? Nm 10:31 e 32

O convite de Moisés não é totalmente compreensível, tendo em conta a coluna de nuvem. No dia em que o tabernáculo foi completo e erguido, a nuvem pairou por cima dele (veja Nm 9). A nuvem dava o sinal de quando deviam parar e quando era tempo de seguir em frente. Certamente, Hobabe não podia competir com a nuvem para saber os melhores pontos para acampar. Talvez, o conhecimento de Hobabe sobre a região apenas ajudasse a complementar a guia do Senhor; isto é, mostrar sobre a área certas coisas que lhes poderiam ser úteis enquanto seguiam a nuvem.

Respostas sugestivas: Pergunta 9: Vem conosco, e te faremos bem. Pergunta 10: As bênçãos de Deus são extensivas a todos os povos. Pergunta 11: Para servir de guia.

Que decisões você precisa tomar em breve? Ao planejar, faça esta pergunta: Quais são meus motivos? Depois de pensar sobre eles, você decidiu que precisa mudar seus planos? Está fazendo a coisa certa pelo motivo errado, mas fazendo a "coisa certa"?

"Se bem não fosse israelita, Zípora era adoradora do verdadeiro Deus. Tinha disposição tímida, acanhada, e era gentil, afetuosa, e grandemente sensível à vista do sofrimento; e foi por esta razão que Moisés, quando a caminho para o Egito, consentiu que ela voltasse a Midiã. Ele quis poupar-lhe a dor de testemunhar os juízos que deveriam cair sobre os egípcios.

"Quando Zípora se reuniu a seu povo no deserto, viu que os encargos dele lhe estavam esgotando as forças, e deu a conhecer seus temores a Jetro, que sugeriu medidas para o aliviarem. Nisso estava a principal razão da antipatia de Miriã para com Zípora. Doendo-se muito da suposta negligência manifestada a ela e Arão, considerou a esposa de Moisés como a causa, concluindo que sua influência o impedira de os tomar em seus conselhos como antes fazia." – Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, págs. 383 e 384.
Perguntas para reflexão

Que tipo de preconceitos existem em nossa sociedade? Étnico, religioso, nacional, de gênero ou econômico? Quais são os resultados? Como podemos aprender a reconhecer o preconceito em nós mesmos? Mais importante ainda, o que podemos fazer para purificar a sociedade, a igreja e a nós mesmos desse mal? O que sua classe pode fazer para ajudar a aliviar o sofrimento provocado por preconceito?

Resumo: Quando Zípora se casou com Moisés, não tinha idéia do que aconteceria. Mas, no pouco que é dito sobre ela, podemos ver que ela e sua família foram uma bênção para Moisés e grande ajuda em sua missão divina.
Moisés, um judeu, aparentemente casou-se com uma africana negra e foi aprovado por Deus.

Aprendemos em Números que "Falaram Miriã e Arão contra Moisés, por causa da mulher cusita, com quem casara; porquanto tinha casado com uma mulher cusita." (Nm 12.1). Um cusita é de Cuse, uma região ao sul da Etiópia, onde as pessoas são conhecidas por sua pele negra. Nós sabemos disso por causa de Jeremias 13.23: "Porventura pode o etíope [ a mesma palavra hebraica traduzida como "cusita" em Números 12.1 ] mudar a sua pele, ou o leopardo as suas manchas? Então podereis vós fazer o bem, sendo ensinados a fazer o mal." A atenção é direcionada na diferença de pele do povo cusita.

Em seu livro From Every People and Nation: A Biblical Theology of Race [ De todo povo e nação: uma teologia bíblica da raça ], Daniel Hays escreve que Cuse "é usada regularmente para se referir à área sul do Egito e acima das cataratas no Nilo, onde uma civilização africana negra existiu por dois milênios. Portanto, parece bastante claro que Moisés casou-se com uma mulher africana negra".

Em resposta ao criticismo de Miriã, Deus não se ira com Moisés; ele se ira com Miriã. A crítica tinha a ver com o casamento e a autoridade de Moisés. A afirmação mais explícita refere-se ao casamento: "Falaram Miriã e Arão contra Moisés, por causa da mulher cusita, com quem casara; porquanto tinha casado com uma mulher cusita." Então Deus fere Miriã com lepra. Por quê? Considere esta possibilidade. Em sua ira contra Miriã, irmã de Moisés, Deus, com efeito, diz: "você gosta de ter pele clara, Miriã? Eu farei tua pele clara". Então, nós lemos, "E a nuvem se retirou de sobre a tenda; e eis que Miriã ficou leprosa como a neve" (Números 12.10).

Deus não fala nada contra Moisés por casar-se com uma mulher cusita negra. Mas quando Miriã critica o líder escolhido por Deus por este casamento, ele ataca a pele dela com lepra branca. Se você alguma vez pensou que preto era o símbolo bíblico para impureza, seja cuidadoso; uma impureza branca pior pode vir sobre você.
"A Bíblia tem a cor de todas as culturas; é contemporânea de todas as eras. Ela é um livro apaixonadamente humano e comprovadamente divino."

Até a construção do Canal de Suez, não se fazia distinção entre as terras bíblicas. O cenário da atuação divina ia do Nilo ao Eufrates. Para o faraó, a península do Sinai ainda era Egito, e o Egito nunca deixou de ser África. Deste continente, também fazia parte Israel. Aos olhos de Mizraim, os hebreus eram uma nação mais africana que semita.
Esta visão haveria de perdurar até 1859, quando o engenheiro francês Ferdinand de Lesseps pôs-se a construir o Canal de Suez. A partir daí, foi a África separada não somente geográfica, mas sobretudo histórica, cultural e antropolo-gicamente do que hoje chamamos Oriente Médio. De repente, aquela milenária extensão da África passa a figurar nos mapas como se fora Ásia.

Conseqüentemente, muitos cristãos deixaram de atentar para um fato importantíssimo: Israel é uma nação tão africana quanto semita, e a mensagem que legou ao mundo teve, como prelúdio, o continente negro.
Se tais nuanças não são percebidas pelos leitores da Bíblia, atentemos à explícita participação do negro na História Sagrada.
A fim de que a nossa visão se torne mais clara, é mister que comecemos por derrubar alguns mitos tidos como dogmas.

1. Mitos dogmáticos ou dogmas mitológicos?
Já disseram que a cor negra é o sinal que o Senhor colocara em Caim por haver este matado a Abel, seu irmão (Gn 4.15). Outros, interpretando de maneira equivocada a profecia enunciada por Noé aos seus filhos, alimentam a hipótese de que o negro surgiu por causa da maldição imposta pelo patriarca sobre a irreverência de Cam (Gn 9.25).
Erudição alguma é necessária para se constatar a incongruência de tais mitos. Uma leitura atenta e descompromissada do Livro Santo há de mostrar que semelhantes teses não resistem a um exame mais atento. Teológica e historicamente, são falhas, dúbias, perniciosas.
Da História sagrada, infere-se ter sido toda a descendência de Caim destruída pelo Dilúvio. Além disso, a marca que pôs o Senhor no homicida não foi a cor, e, sim, um ideograma, denunciando-lhe o crime. Quanto ao caçula de Noé, o texto do Gênesis não comporta dúvidas: apenas um ramo dos camitas foi amaldiçoado: os cananeus. E a maldição cumpriu-se quando os hebreus tomaram-lhes as terras no século 15 aC.
Os outros filhos de Cam são mencionados na Bíblia como nações fortes, poderosas e aguerridas. Haja vista o Egito, a Etiópia, a Líbia e as cidades de Tiro e Sidom.
De acordo com a concepção hebraico-cristã, não há nenhuma maldição em ser negro nem bênção alguma em ser branco. A bem-aventurança reside em se guardar os mandamentos de Deus, praticar a justiça e observar a beneficência:

"... Deus não faz acepção de pessoas; Mas que lhe é agradável aquele que, em qualquer nação, o teme e obra o que é justo.", At 10.34-35.

2. A África no índice Bíblico das Nações
Conhecido como o índice das Nações, o capítulo 10 do primeiro livro da Bíblia faz referências a pelo menos três grandes nações africanas: Cuxe, Mizraim e Pute (Gn 10.6). Ou seja: Etiópia, Egito e Líbia.
Apesar das muitas tribulações de sua história, estes povos vingaram: no passado, império; no presente, o vivo testemunho do vigor das civilizações negras.
Durante toda a História Sagrada, o Egito sempre foi temido como potência mundial. À Etiópia era uma nação tão aguerrida e expansionista que, no tempo dos reis de Judá, invadiu a Terra Santa com um exército de um milhão de homens (2Cr 14.9). Quanto à Líbia, era vista pela Assíria como um contrapeso às ambições babilônicas (Na 3:9).
Se coletivamente os africanos foram marcantes, individualmente destacam-se no texto bíblico.

3. A mulher negra de Moisés
No capítulo 12 de Números, lemos:
"E falaram Miriã e Aarão contra Moisés, por causa da mulher cuxita, que tomara: porquanto tinha tomado a mulher cusita", Nm 12.1.
Não fora o contexto deste triste e lamentável episódio, seríamos levados a pensar que a profetisa e o sumo sacerdote hebreus eram tão racistas quanto os criadores do apartheid. Todavia, mostra-nos o desenrolar da história que a má vontade de ambos não tinha como motivação o fato de Moisés haver tomado uma negra por mulher. O que eles não toleravam eram os privilégios que o grande líder desfrutava junto a Deus. Como não achassem nenhuma falha no legislador, houveram por bem censurar-lhe a união inter-racial que, diga-se de passagem, não era algo incomum entre os israelitas. Afinal, não se unira Abraão com uma egípcia e com uma egípcia não se casara José?
(quanto ao caso de Moisés, permita-me discordar do autor do texto, pois parece provável que se tratou de um caso tipicamente de “racismo”; o registro nas Escrituras Sagradas deste caso talvez seja para demonstrar a acepção humana e a não acepção do Criador, embora Ele tenha orientado o povo hebreu a não se misturar com as demais nações devido à impiedade delas - Marcelo Victor)

4. Eu sou negra e aprazível
Como você imagina a Sulamita dos Cantares? Uma nórdica encontradiça nas pinturas sacras da Renascença italiana? E se você descobrisse que o maior poema de amor de todos os tempos foi dedicado a uma negra? Ficaria escandalizado? As filhas de Jerusalém indignaram-se quando Salomão elegeu a formosa pastora de Quedar como a predileta de seu coração.
Diante de tão descabida acepção, Sulamita protesta:

"Eu sou morena, mas agradável, ó filhas de Jerusalém, como as tendas de Quedar, como as cortinas de Salomão." (Ct 1.5)
Se o texto em português deixa alguma dúvida quanto à cor da formosíssima jovem, o texto inglês, apesar da infelicidade da partícula adversativa, é concludente: I am black but comely.
Esta tradução parece estar mais de acordo com o original hebraico.
(A narração diz que ela é morena e não negra, queimada de sol - Marcelo Victor)

5. O negro que ajudou a Jeremias
Jeremias profetizou no momento mais crucial e ingente do Israel do Antigo Testamento. Em breve, seriam os judeus entregues aos babilônios; perderiam em breve a soberania e em breve ficariam sem os mais caros símbolos nacionais e religiosos. É neste momento que aparece o profeta com uma mensagem impopular e nada patriótica: apregoa a submissão ao opressor e condena qualquer esboço de resistência.
Por causa de sua atitude, foi Jeremias lançado no calabouço de Malquias (Jr 38.6). E só não morreu porque um etíope chamado Ebede-Meleque intercedeu por ele junto ao rei Zedequias. Por sua corajosa postura, o negro Ebede é honrado até hoje.

6. Os negros no Novo Testamento
Muitos africanos ainda vêem a Igreja como típica empresa européia. Ainda se assustam com os pioneiros brancos e barbudos que, desde David Livingstone, cortam a negritude daquelas terras levando a mensagem do Cristo. Em sua origem, porém, a Igreja era tão multirracial quanto hoje.
No Dia de Pentecostes encontravam-se em Jerusalém, além dos gregos, romanos e asiáticos, várias nações negras: Egito, Líbia e Cirene. E, nestes países, o Evangelho floresceu de maneira surpreendente. Haja vista a Igreja de Alexandria. Dela sairiam os teólogos Orígenes, Clemente e Atanásio.

Lembremo-nos também do ministro da Fazenda da Etiópia que se converteu quando retornava ao seu país (At 8.26-38). Acredita-se ter sido com este eunuco que teve início a Igreja Copta.

(há outros casos muito importantes de participação de negros no Novo Testamento, tais como o que se deu com Simão Cirineu que foi constrangido a oarregar a cruz, na qual o Filho de DEUS foi crucificado, além de outras passagens em Atos dos Apóstolos que fala de discípulos negros do Senhor Jesus)

7. Uma visão universal e transcultural da Bíblia
Durante vários séculos, a Bíblia foi vista como um livro exclusivamente branco e interpretado colonialisticamente pelas nações européias. Deste triste contexto, excetuamos os missionários que sempre tiveram uma visão universal e trans-cultural das Sagradas Escrituras.
Jamais nos esqueçamos de que a Bíblia começou a ser escrita na África.

Não é um livro branco, como pensamos; ou exclusivamente negro.
A Bíblia tem a cor de todas as culturas; é contemporânea de todas as eras.

Ela é um livro apaixonadamente humano e comprovadamente divino.